Ricardo Senra
Da BBC Brasil em São Paulo
Quando o assunto é a violência dentro das salas de aula, não parece haver consenso sobre suas principais causas.
Professores, diretores de escolas, alunos e
especialistas em educação ouvidos pela reportagem da BBC Brasil apontam
para direções diversas, sugerindo que agressões contra educadores seriam
fruto do histórico familiar dos alunos, da falta de políticas públicas e
policiamento e também de professores mal preparados - e até mesmo
agressivos.
A violência em sala de aula contra professores foi um dos temas destacados por internautas em posts de Clique
Facebook e no Clique
Twitter como um dos que deveria receber mais atenção por
parte dos candidatos presidenciais, em uma consulta promovida pelo
#salasocial, o projeto da BBC Brasil que usa as redes sociais como fonte
de histórias originais.
A pedido da BBC Brasil, internautas, entre eles professores, compartilharam, via Clique
Facebook, Clique
diferentes relatos sobre violência cometida contra profissionais de ensino. Houve também depoimentos feitos via Clique
Google+ e Clique
Twitter.
Enquanto ninguém fala a mesma língua, o Ministério da Educação (MEC) diz não ter dados unificados sobre a violência escolar.
Confrontado pela reportagem, porém, o INEP,
órgão ligado ao ministério, reconheceu que o tema faz parte da Prova
Brasil - avaliação nacional com respostas voluntárias de professores,
alunos e diretores. Os últimos dados, de 2011, foram tabulados a pedido
da BBC Brasil.
Os resultados apontam que um terço dos
professores que responderam ao teste disse ter sido agredido verbalmente
por alunos. Um em cada dez afirmou ter sofrido ameaças. Aproximadamente
um a cada 50 apanhou de estudantes.
Violência nas escolas - Prova Brasil
PERGUNTAS PARA PROFESSORES |
SIM | TOTAL |
Você foi ameaçado por algum aluno? |
19.588 (9,6%) |
223.253 |
Você foi agredido verbalmente por algum aluno? |
73.857 (33%) |
223.019 |
Você foi agredido fisicamente por algum aluno? |
4.195 (1,9%) |
224.991 |
"É simplista culpar crianças e adolescentes por
tudo o que acontece", alerta a socióloga Miriam Abramovay, pesquisadora
do tema com passagens pela Unesco, Banco Mundial e Unicef.
"A escola tem culpa, porque se isola das
comunidades e não se atualiza. E os professores têm péssima formação,
simplesmente não conseguem, e muitas vezes nem tentam, conquistar os
alunos", diz. "No fim, todos são vítimas."
Descompasso
Para pesquisadora, a desvalorização do ensino
resumiria este descompasso. "A estrutura das escolas parou no século 19,
os professores dão aulas como no século 20 e os alunos, sempre
conectados, vivem no século 21", diz.
Ela diz que as escolas vivem um "processo de abertura" há 50 anos.
"Se antes havia pouco espaço para as classes
populares, hoje a escola se massificou. Todos entram - nem sempre
continuam, mas entram. Mas a relação professor–aluno não mudou nada
nesse meio tempo e os educadores não sabem lidar com esse novo
interlocutor, que antes estava na rua, do lado de fora", diz.
Abramovay diz que a violência não é consequência
direta do entorno. "Há escolas em bairros tremendamente violentos que
têm resultados satisfatórios. E colégios particulares, ricos, com
problemas enormes", observa.
Rosane Gomes foi uma das professoras que contou via redes sociais ter sofrido agressão de alunos
A pesquisadora aponta o trabalho participativo,
envolvendo pais e alunos na construção de regras e do currículo escolar,
como caminho para reduzir a resistência e a agressividade.
"Os muros das escolas não são simbólicos",
afirma. "Eles são reais, ninguém penetra ali. Assim, a escola não é nem
protegida, nem protetora", diz.
O educador Jorge Werthein, presidente da Unesco
no Brasil entre 1996 e 2005, também diz que a escola "precisa ser
acolhedora" e critica a formação dos colegas.
"Diferente do médico, que faz residência, a
maioria dos professores que se forma não tem nenhuma experiência em
sala. Só pisam lá no primeiro dia, encontram coisas que nunca viveram e
não sabem lidar", diz.
Para Wherthein, os educadores precisam se dar conta "da violência que eles próprios exercem sobre os alunos".
"Perseguição, homofobia e exageros nas
repreensões" seriam exemplos. "Outra agressão simbólica é o abismo
tecnológico que existe entre professores e alunos", diz.Clique
Celular
Com um olho no smartphone e outro no repórter, os alunos entrevistados parecem concordar com a avaliação.
"Parece que eles vivem fora do tempo. O
professor pede para a gente copiar a lição do quadro, mas eu podia tirar
uma foto com o celular e prestar atenção no que ele diz", reclamou uma
estudante da 8º ano de uma escola em Diadema, ao sul de São Paulo.
A seu lado, espinhas no rosto e sorriso tímido,
um adolescente do ensino médio completa. "Sei que celular pode
atrapalhar. Não é para usar Facebook e Whatsapp na aula. Mas quando
ajuda, por que não, né?", questiona.
Pelo Twitter, @leogomes também se posicionou sobre o tema
Eles reconhecem que as agressões são constantes.
"Na semana passada a professora chamou a atenção
de um aluno bagunceiro e ele perguntou se ela não tinha medo de morrer.
Ela deu risada e continuou passando a lição", contou uma estudante do
1º ano do ensino médio.
"Tem brigas combinadas também. Os alunos fingem estar dando porrada para o professor vir separar e apanhar também", completou.
Professores ouvidos pela reportagem disseram que a escola, hoje, seria "um espaço de conflito".
"Os professores não são santos que caíram do céu
e vêm educar com toda a candura. Sempre que passo pelo pátio me chamam
de vagabunda. O educador tenta legitimar a sua autoridade, não consegue,
e aí revida", disse uma ex-professora da rede pública, que não quis se
identificar.
Eleições
Para Wherthein, é uma tradição que a violência
contra professores e alunos não faça parte da agenda dos principais
candidatos a cargos políticos.
"A agenda da educação é genérica. 'A educação é
importante'... 'Vamos aumentar os investimentos e a carga horária'...
'País bom é país educado'. Nunca nada é objetivo", critica.
O pesquisador afirma que o cotidiano das escolas, ponto crucial na discussão, passa à margem do discurso político.
"Educação e segurança estão sempre no topo das
preocupações do eleitorado. Mas os candidatos não entenderam que há
cruzamento entre estes temas. Num país como o Brasil, com taxas de morte
tão altas (somos um país sem guerra), os conflitos são resolvidos
sempre de forma violenta. Dentro da escola inclusive. Então a violência
na escola não é algo que vem só da vizinhança, das famílias, é algo que
faz parte da nossa sociedade e aparece em todos os setores", diz.
Wherthein diz que uma "nova cultura da solução não-violenta de conflitos" deve ser construída dentro das escolas.
"O caminho não é, portanto, aumentar os
mecanismos de repressão, mas aumentar a prevenção por meio da educação e
da disseminação de uma cultura pacífica. Escolas e universidades têm
que discutir violência! Só assim se transforma as coisas - e essa
responsabilidade está nas mãos dos candidatos", afirma.
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